Marcos Felipe como Luis Antonio Gabriela
Escrita para a Revista Brasileiros
edição nº 47 | Junho | 2011
Montagem Luis Antonio Gabriela, de Nelson Baskerville, põe em cena inquietudes e dramas pessoais, que também são universais, de forma emocionante e bem-humorada ao tratar de homossexualidade, transexuais e família
É incrível que o tema sexualidade ainda gere discussões em nosso País que tem tanto orgulho de ser emergente. Estamos ilhados na América Latina e rodeados por pensamentos e ações que nos deixam para trás em matéria de Direitos Humanos e compreensão do que sempre foi e sempre será humano.
Em cartaz no Galpão do Folias, Luis Antonio Gabriela, montagem do Grupo Mungunzá, que tem Marcos Felipe no papel título, surpreende ao falar de homossexualidade, transexuais e família de maneira bem-humorada, emocionante e cenicamente muito bem resolvida. A peça é, antes de tudo, um pedido de desculpas do autor, Nelson Baskerville, a seu irmão, com quem mantinha (inocentes) relações sexuais na pré-adolescência e que acabaram marcando negativamente a vida do autor. Nelson reagiu mal e com o passar do tempo exorciza seu passado despudoradamente diante dos espectadores.
A montagem, dirigida pelo próprio autor, envolve a todos, colocando família, fidelidade, felicidade, amor e sexualidade, todos com o mesmo peso. Sem hipocrisias. As escolhas cênicas são muito simples e é talvez por essa razão que levam a plateia ao profundo deleite. A música ao vivo passa a quilômetros dos empolados musicais nos quais os agudos estão nos lugares certos e os tons são respeitados com rigidez. A música está lá, presente, assim como a sensibilidade dos atores dessa história dura, mas repleta de ternura. Iluminação, figurinos, intervenção dramatúrgica, elementos cênicos se desenvolvem em perfeita harmonia.
Como bom espectador que sou - tanto de montagens teatrais quanto da vida e atuação desses personagens que vivem à margem e que merecem, no espetáculo, citação musical de Lou Reed, Walk on The Wild Side -, a montagem me transportou para momentos adormecidos em minha memória e no final fiz a minha lista de Gabrielas: Claudia Wonder, Vera Abelha, Vicky, Barbarella, Condessa, Tania Starr, Meise, Lola, Makiba, Aloma, Biá, Phedra de Cordoba. Não é para menos que ao final, a plateia aplauda em pé e com gosto. Estamos todos em cena, com nossas inquietudes juvenis e adultas, nossos sonhos, nossos pedidos de desculpas, nossas declarações de amor, nosso olhar generoso para o que é diferente de nós mesmos.
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